Texto publicado originalmente em 19/09/2024 no Instagram da @manola14.
Exército contra nada: 'Caravana Zona Lesta' no galpão do Sesc Pompéia, 19/10, às 11h.
Um picadeiro no centro da cena, com um espaço para a banda e dois suportes em cena para aguardar o alegre cortejo colorido que rasga a cena com o início do espetáculo. Temos um tempo para apreciar aquelas figuras diversas em expressividade, habilidades e formatos. O apresentador toma a cena com elegância e utopia, e nos introduz a essa viagem com poesia e realidade, trazendo os territórios da zona leste em cruzamento com o mundo fantástico do circo, nos convidando a esta viagem que amplia o sonho com os dois pés aterrados no chão.
Logo os palhaços são convidados a tomar a cena e o riso do público não se contém. Relatam um tal de vírus muito perigoso, e nesta brincadeira, apresentam um repertório que dialoga certeiramente com os presentes, que cantam junto e se deliciam com a identificação. Repertório adulto, inclusive, o que imediatamente me fez pensar o porquê o circo ser comumente associado a infância - logo eu que fui interpelada na entrada com: não trouxe criança? Não me pareceu até ali que era para público infantil, apesar do horário, mas as crianças se deliciaram e até pulavam nos seus lugares. Claro, no final de semana as crianças são trazidas por seus responsáveis então nada mais justo que contemplar a todos, como é característico do circo. E convém olhar para que circo é esse, que é trazido arte milenar, que fala da tradição, e que a carrega com muita beleza.
Certa vez estava numa mesa em que ouvimos a pergunta do 'porquê o circo não tinha uma dramaturgia como a do teatro'. Na hora a pergunta me pareceu tão absurda quanto agora, mas com o tempo, me vieram ainda mais respostas que naquele momento, me ative apenas a perguntar que circo que a pessoa estava indo ver, já que o circo é diverso, e é realizado de diferentes formas a depender do seu território. Trago esta memória aqui porque durante o espetáculo eu me lembrei dessa conversa.
Um espetáculo bastante teatral e também bastante circense. Cada artista com inúmeras habilidades. Os acrobatas também são palhaços, o equilibrista também toca instrumentos, o duo acrobático voa e abre para as contorcionistas, e enfim, todos estão ali de forma a ampliar um show que se anuncia como de variedades, mas compõe com a força de um espetáculo. Uma dramaturgia circense contemporânea, como o circo sempre foi, contemporâneo em seu tempo presente.
A virtuose está em toda parte. As contorcionistas parecem ser feitas de borracha e carisma. A acrobacia arranca suspiros a cada momento. E os palhaços... os palhaços não deixam ninguém quieto, seja pela chamada a participação, seja por deixar a gente com o riso frouxo. Ali, no palco do Sesc Pompéia, a gente assiste um circo da periferia, com a excelência que esta costuma se apresentar, anunciando bairros como São Miguel Paulista, Guaianases e Cidade Tiradentes com orgulho e potência. No espetáculo do grupo Exército Contra Nada a zona leste é o centro.
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